quinta-feira, 24 de junho de 2010

O VENTO NÃO CESSA



O VENTO NÃO CESSA

HÁ VÁRIAS NOITES

ME TORTURA

OUÇO SEUS SUSSURROS

SONS DO INVERNO

O ECO DE MEUS GRITOS

ABAFADOS

A JANELA BATE COM FORÇA

OS PENSAMENTOS SE ARRASTAM

NA ESCURIDÃO

FECHO-ME NO QUARTO

COMO SE FOSSE UM CAIXÃO

SONHOS CONGELADOS

NÃO HÁ QUIETUDE

E O VENTO NÃO CESSA

UIVOS DE CÃES, A DISTÂNCIA

MADRUGADA CRISTALIZADA

ESPIO PELOS VIDROS DA JANELA

NÃO HÁ ESTRELAS

SOMENTO O BREU

E O VENTO NÃO CESSA

A NOITE, ENFIM, MORRE

VENCIDA PELO DIA

O BRANCO DA GEADA,

SE DESTACA NOS CAMPOS

UM CÉU TURVADO

O SOL ESQUECEU DE NASCER

CENÁRIO DESFIGURADO

NA LAREIRA, HÁ CINZAS

NO PENSAMENTO, AS CINZAS

NO CORAÇÃO, AS CINZAS

O DESEJO SE DESFEZ EM CINZAS

NO ESPELHO, UM ROSTO DESBOTADO

E O VENTO NÃO CESSA

O DIA CAMINHA, DE COSTAS

PASSOS LENTOS

O ENTARDECER CHEGA,

SOLITÁRIO

A FUMAÇA DA CHAMINÉ

SE MISTURA A CERRAÇÃO

ANOITECE

O VENTO PERSISTE

INVERNO DESERTO, VAZIO

ESCUTO COM AGONIA

OS SONS DO SILÊNCIO

RECLUSA EM MEU QUARTO

INICIA A NOITE INFINITA

JANELA BATENDO, NOVAMENTE

INSISTENTES TAMBORES

E O VENTO NÃO CESSA

CANSADA, CEDO ENTÃO

ABRO A JANELA

E PERMITO QUE O VENTO

ENTRE E SE PROPAGUE

PELO QUARTO

QUE FALE

QUE ESFRIE DE VEZ

A TEIMOSIA

E ASSIM AS CINZAS ESCONDIDAS

SE ESPALHEM SOBRE A PAIXÃO

E QUEM SABE

O VENTO SE ACALME

E EU POSSA DORMIR





Um comentário:

  1. Que espetáculo de poesia Tais!
    Bela construçao. Adorei, Parabéns!

    Beijos pra ti.
    Sou de Maringá, conheço o frio daí.
    Mas moro em Sampa à muitoosss...rs

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