quarta-feira, 30 de junho de 2010

DESCOMPASSO

O mar se cobre de brumas
Paisagem lúgubre
Telas opacas
O pranto das águas faz-se ouvir,
na longa estrada
Deserto calvário
Vestida com a mortalha do desgosto
A noite parece mais preta, na orla
Como o horizonte...
meu pensamento acinzentou
Com frio, escondo meu rosto
Umidade com gosto de sal
Um vazio imenso, se arrasta
Hedionda solidão
Agonizante
Barulho forte das ondas,
Borbulham em lamentos
Pouco me importa, a escuridão,
ressentimentos ...
Ando às cegas, cansada das paixões
Caminho de costas, em descompasso
Meus sonhos
Em pedaços
Chora com vontade,
meu coração
Sem laços
A deriva, sem maldade
No colo da ilusão
Jardins adormecidos
Inverno de delírios
Amores jazem, esquecidos
Das profundezas infinitas
Ouço gritos
Sufocados
Febris: ... nunca mais...
Perdeu-se para sempre...
Sem adeus...
Meu silêncio, sepulcral
Somente as sombras
Desvios sem razão
Sentimentos se perdendo
Rupturas
Desafinada marcha
Melancolia
Não quero reagir
Me desconheço
Sem vida
Desfaleço

                                                        Imagem disponível Google

“Da sua voz parece o rude lamento de um ferido
Á beira de um lago de sangue,
sob um monte de mortos
E que agonia, imóvel, no último dos portos”
     Charles Baudelaire

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O TEMPO NÃO PARA


Cochila nas águas um segredo


Que a solidão precisa revelar


Porém, numa fração de segundos,


é calado pelo medo


Mundos diferentes


O tempo está com pressa


Deixamos a vida passar


E meu coração está sufocado,


é insuportável, a espera


contemplo com ansiedade, o céu,


me afogo com seu reflexo no mar


Saudosa daquele olhar que me deseja


Ecos respondem: amar, amar, amar


Queria dispor da força dos elefantes


Para quebrar essas portas,


e andar firme , cheia de certezas


mas só acontecem desencontros


chuvas de incertezas


O tempo desfaz de mim, a gargalhar


O tempo não para






Quero o anil, a essência, o cheiro de anis


Te saborear com meus olhos


Tecer tua geografia, em paz


Velada beleza


Busco o cristal que jaz


Tardes vazias


Ruas desertas, salas mortas


Aragem fria


Sensação tardia


Cercada de árvores tortas


Caos ancestral


Preciso, demais, do tempo


E o tempo não para






Lembranças gritam, desesperadas


Chamando teu nome


Centenas de vezes


Minha alma, em clausura


Quer novamente voar


Correr contra o tempo


Atrofia-lo sem dó


Ao longe, brilham tuas pupilas


Estrelas na escuridão


Meus devaneios, atados ,aos nós


Nossos pensamentos, se encontram


Ao cair da noite


Então me embriago em ti,


e todos os prazeres me servem à mente


ceia de farturas


O dia nasce, acanhado


Escadas ao contrário


Espelhos quebrados


Encontros desencontrados


E o tempo não para






As chances se perdem


Nos cemitérios da paixão


Pesos, dormência


Desânimo ancorando


Porque o tempo não para


E ainda quero a luz dos teus olhos


Para reviver e das cinzas renascer


Contudo, os relógios conspiram


Em desfavor


Fico quieta, a sofrer, a sonhar


E o tempo não para


Imagem disponível Google



“Longe dos túmulos famosos

Para um cemitério isolado,

Meu coração, tambor velado

Vai batendo tons dolorosos”

Charles Baudelaire



“Vens do céu profundo

ou sais do precipício...

...esse teu olhar

Divino e daninho”

Charles Baudelaire

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O VENTO NÃO CESSA



O VENTO NÃO CESSA

HÁ VÁRIAS NOITES

ME TORTURA

OUÇO SEUS SUSSURROS

SONS DO INVERNO

O ECO DE MEUS GRITOS

ABAFADOS

A JANELA BATE COM FORÇA

OS PENSAMENTOS SE ARRASTAM

NA ESCURIDÃO

FECHO-ME NO QUARTO

COMO SE FOSSE UM CAIXÃO

SONHOS CONGELADOS

NÃO HÁ QUIETUDE

E O VENTO NÃO CESSA

UIVOS DE CÃES, A DISTÂNCIA

MADRUGADA CRISTALIZADA

ESPIO PELOS VIDROS DA JANELA

NÃO HÁ ESTRELAS

SOMENTO O BREU

E O VENTO NÃO CESSA

A NOITE, ENFIM, MORRE

VENCIDA PELO DIA

O BRANCO DA GEADA,

SE DESTACA NOS CAMPOS

UM CÉU TURVADO

O SOL ESQUECEU DE NASCER

CENÁRIO DESFIGURADO

NA LAREIRA, HÁ CINZAS

NO PENSAMENTO, AS CINZAS

NO CORAÇÃO, AS CINZAS

O DESEJO SE DESFEZ EM CINZAS

NO ESPELHO, UM ROSTO DESBOTADO

E O VENTO NÃO CESSA

O DIA CAMINHA, DE COSTAS

PASSOS LENTOS

O ENTARDECER CHEGA,

SOLITÁRIO

A FUMAÇA DA CHAMINÉ

SE MISTURA A CERRAÇÃO

ANOITECE

O VENTO PERSISTE

INVERNO DESERTO, VAZIO

ESCUTO COM AGONIA

OS SONS DO SILÊNCIO

RECLUSA EM MEU QUARTO

INICIA A NOITE INFINITA

JANELA BATENDO, NOVAMENTE

INSISTENTES TAMBORES

E O VENTO NÃO CESSA

CANSADA, CEDO ENTÃO

ABRO A JANELA

E PERMITO QUE O VENTO

ENTRE E SE PROPAGUE

PELO QUARTO

QUE FALE

QUE ESFRIE DE VEZ

A TEIMOSIA

E ASSIM AS CINZAS ESCONDIDAS

SE ESPALHEM SOBRE A PAIXÃO

E QUEM SABE

O VENTO SE ACALME

E EU POSSA DORMIR





terça-feira, 22 de junho de 2010

QUANDO CHEGA O INVERNO


QUANDO CHEGA O INVERNO



Manhã esbranquiçada



Campos enfumaçados



Cerração



Geada



Sol da tarde



Pálido



Tímido



Escondido



Vendo ressoando



Zunindo desafinado



Natureza gemendo



Barulho de chuva miúda



Frio



Olhares através das janelas



Conversas ao redor do fogão



Chocolate quente



Chimarrão



Lenha empilhada



Chaminé trabalhando



Esquentando



Anoitecer precoce



Paisagem escura



Cobertor, livros, reflexos



Vela acesa a refletir no espelho



Sono, sonhos



Suspiros do vento à meia noite



Estrelas congeladas



Madrugada de cristal



Estrada deserta



Silencioso crepúsculo



Clarear do dia











Imagem – Cartão Postal –Rio Grande do Sul

sábado, 5 de junho de 2010

DISFARCES


O SILÊNCIO DIZ TUDO

APAGUEI O NOME DOS MAPAS

QUEBREI A BÚSSOLA

SAÍ SEM DIREÇÃO

ERGUI A FORTALEZA

ENCERREI O DESEJO NELA

VESTI O LUTO

DEZOITO MÁSCARAS

DISFARCES DE PEDRA

OLHOS ABERTOS

VI A REALIDADE

COBERTOR DE FRIEZA

COM DESENVOLTURA

ESCREVI A DEFESA

HOJE SOU UMA FERA

SOU CAMALEOA

SOU SERPENTE

SOU ÁGUIA QUE VOA

INVISÍVEL