sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sono de dezembro I e II ( 2011/2012 )

SONO DE DEZEMBRO I . . .

Alamedas escuras
ruas turvas
cobertas de areia
lavadas de suor
pálido medo
prédios inacabados...anêmicos
minh’alma errante
não quer descansar
caminha tateando os cordões e muros
escuridão sem destino
clarão no céu
lua cheia invade a noite
reflexos de luz nas poças d’água
farejo teu cheiro no ar...
forte maresia
almiscaradas madeiras
aproximo-me da tua janela
entreaberta para as brisas
aqui fora...o silêncio,as brumas
te descubro...entorpecido pelos sonhos...
adormecido entre os lençóis cremosos
madrugada desperta
nuvens preguiçosas encobrem o céu
penumbra ...
espio teu sono...profundo
embalado pela suavidade...
do vento que desperta
minha sombra nos pilares acinzentados,
sussurra que é hora de partir
o tempo passou depressa
o sol já vai nascer..

Publicado no site: O Melhor da Web em 15/12/2011
Código do Texto: 86397



             
           Sono de dezembro II





Sono de dezembro II

Dorme meu pássaro azul
Neste litoral    agora obscuro
Mais um sono de dezembro
Embriagado pelos sons das águas
Profundamente    perdido nos seus fios
de seda e solidão cinza,    grudados aos meus...
Que já regressei    e estou a lhe vigiar
Novamente vago pelas suas ruas turvas de sal  
Na escura noite ouço...seus sussurros, seus ais
Entre o cimento e a areia, machuco meus pés
Me violento para chegar no seu ...breu
Seus vidros embaçados e um leve risco de luz
que a lua da sua orla... sustenta quase anêmica
Sonha seu íntimo desejo  
na    impossibilidade do momento ...
Que as chuvas de março... cairão antes
   Um milagre está por nascer...
no cochilo descuidado    dos covardes e das    mariposas...  
algumas palavras naufragadas,
nossas    gargantas apertaram
são espumas    sangrentas do mar agitado
Furtaram as horas... de nossos    corpos,sim
A alma se esconde e    arde em chamas...
Nossos anseios    jamais serão    castrados     
Meus, seus inesperados disfarces
Navegantes    na correnteza    inconscientemente
Repetições que se dão    no    caos momentâneo,
Para a quebra definitiva...desses sórdidos efeitos ...        
vejo    imortais semblantes...    transparentes
seus lençóis    amarrotados    pelo    temor    guardado
panos    pesados congelam ... no calor da    estação
algumas noites estarei    nesse lugar , meu senhor,    prometo
fazendo evaporar suas lágrimas azuis,    únicas...
contando as noites... para o seu acordar,
Dorme meu segredo ,minha quimera
Dorme meu pássaro azul...
Mais um sono de dezembro...
 
   Segredo azul...uma vez você disse sorrindo:  
“deixe o pássaro azul voar e observe, vai e vem, vem e vai ... e “ele- pássaro” sempre retorna, pois...
Sopram segredos nas brumas...que não estão mais tão ocultos...
Dorme mais um sono de dezembro...    meu pássaro azul...


Publicado no site: O Melhor da Web em 02/12/2012
Código do Texto: 98771

quarta-feira, 15 de agosto de 2012





. . . A c a l a n t o . . .



Adormece menino grande
nos braços leves da brisa
que leva embora teu cansaço
e um acabrunhado sentimento
o oceano carrega tuas tristezas

Adormece menino grande
no balanço da grande rede
azulada de franjas brancas
como o céu e as nuvens
na calmaria de um dia
tecido por mim

Adormece menino grande
acalma teu coração de marfim
não há mais inverno
apenas o sussurro da passarada

Adormece menino grande
no colo da saudade
pois a maré já vem subindo
e o repuxo leva toda tua dor

Adormece menino grande
com o som do meu acalanto
repousa teu pensar
nos travesseiros de algodão
das suaves ondas do mar

Publicado no site: O Melhor da Web em 03/08/2012

sábado, 23 de junho de 2012

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um velho farol

 

Passam os dias e as semanas escorrem entre meus dedos, só vejo os pássaros e os peixes,o sol, a lua,o vento e a chuva.

Entra ano e sai ano e eu aqui no farol, resistindo ao tempo e a solidão.

Isolamento e introspecção, meu monólogo no farol não tem fim.

Ao entardecer,com o passar dos minutos o sol vai se escondendo e a paisagem fica bucólica. Ao anoitecer o farol é acesso, a forte luz que sai dele orienta alguns navegantes que por aqui cruzam.

A monotonia toma conta do ambiente, visitas aqui são raras, principalmente no fim do outono e chegada do inverno...amanhece...escurece....amanhece...

Há dias,principalmente os nublados e ventosos que ouço vozes,o mar cinza esverdeado mostra-se agitado, então consigo ver muitas sombras nas paredes do velho farol, quantos rostos e pinturas ainda inacabados.

Durante o dia, mesmo com o frio e as brumas, caminho muito, mas o segredo para não cansar é observar a natureza, cantar, pensar, escrever e desenhar, converso com a fauna, a flora e com o farol que um dia me acolheu e me acolhe.

Sobriedade e quietude são imagens do inverno daqui, me acostumei com essa atmosfera de solidão que se desfaz em calma e muita paz.

No verão alguns estrangeiros aportam por aqui, porém permanecem por pouco tempo, pois talvez não suportem a solidão e as vozes das marés à noite, aqui eles não tem muito o que fazer, a não ser observar e compreender a natureza e a si mesmos...

Quando vem a tempestade, o mar assusta e algumas embarcações se perdem e encostam aqui, apenas para tomar um fôlego e logo estão de partida...

O farol não é um porto de embarque e desembarque, mas atrai navegadores e impõe respeito aos que não estão acostumados com a sua altivez, com a bravura do oceano e as vozes da natureza.

Aprendi a meditar lendo e relendo o lento caminhar das tartarugas ou compreendendo o ágil voo das aves daqui, são minhas companhias do dia.

De todos esses anos que estou aqui, posso afirmar que APRENDI A FALAR A LINGUAGEM DOS PÁSSAROS E A SENTIR A REBELDIA DAS ONDAS DO OCEANO.

É quase impossível imaginar, porém, quando cheguei aqui, tinham pessoas me esperando para que eu ocupasse seus lugares e eles pudessem seguir, e outras que vieram ficaram pouco tempo comigo aqui no farol, foram em outros tempos..se se foram, pelo menos tentaram ...

Desde menina conheço o farol, quando no verão às vezes vínhamos de longe eu, meus pais e meus irmãos para uma pequena temporada, e os ventos do destino sopraram e me trouxeram para cá novamente, dessa vez para ficar e entender o farol e tudo que o cerca, então soube ( sempre soube) que eu pertenço a esse lugar e que ele me pertence, e que aqui tem tudo o que eu preciso...Não é comodidade e sim paz de espírito,aqui eu me encontrei .


 

Velho farol


Tua luz é projetada ao longe

Amortecendo a escuridão

Tua escuridão

Minha escuridão

A escuridão do mundo

O mar furioso

Acoita as tuas paredes

Em noites de tempestade

Ouço teus gritos

Entre fluxos e refluxos

Das ondas prateadas

Quantos naufrágios

Presenciamos

E quantas embarcações

Orientamos a direção

Não tememos o mar

Sabemos que não existe solidão

Que o silêncio tem voz

Aliás muitas vozes...

Ilumina distâncias

Sem temer o desconhecido


Seria o farol um alquimista?

Aprendi com ele a criar luz

E propagá-la ao longe

Arrebatando as trevas

Resgatando corações

Já sem esperanças do viver

Sou luz que navega pelas ondas

Invade as furnas e montes

Pequenos raios viajam

Aquecendo e soprando vida

Surpreendendo sombras esquecidas

Salvando almas...

Foi o farol quem me ensinou...

 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

ESTRADA . . .




















Estrada .  .  .

A estrada é longa
ninguém sabe onde termina
O destino da caminhada ...incerto
A trajetória entre escuros e claridades
Neste ponto em que estou...
não dá mais para parar
Se descansar é desistir...isso eu não vou fazer
Minha vontade é mais forte que meu cansaço

domingo, 1 de abril de 2012

Estava escrito . . .




     

       ESTAVA ESCRITO  .  .  .



Corri sem parar

Buscando frutos

Somente árvores secas

Cai em armadilhas

Depois de muito tempo

Cansada e sem perceber...

Enfim, sai do deserto

Reviravoltas nos caminhos

Mudanças inesperadas

Retornos ... surpresas

Sol nascendo novamente

Paz estranha, alcançada

Sentimento andarilho

Espinho arrancado

Resguardo...  cura da ferida

O sal deixado para trás

Lágrima estancada

A esperança renovou-se

no vazio do tempo

A insistência morta...viva

Lápide quebrada

Ressurreição da alma

O voo das sementes

sacudidas pelo inesperado

Já estava escrito



Sem parar

caminhava

Buscando

falsas estrelas

Deserto cruel

Tempo vazio

Estradas, retornos

Sol... sem perceber

Paz alcançada

Sentimento suave

Espinho arrancado

Cura...

a lágrima ...perdeu-se

Tempo de luz

Quebra do mal...

ressurreição

voo... inesperado

mais uma vez

eu sabia

não acreditava

aconteceu...

estava escrito



Mais uma vez, o risco lento de um cometa ...

Atravessou meu universo

verdades ocultas

que só o tempo mostraria...

os laços do passado próximo arrancados

todas as ilusões levadas com o vento do deserto

novos laços etéreos reafirmados

num oásis de calmaria e lucidez

um novo clarão no horizonte fosco

o tempo moldou as estátuas de pedra

o tempo fez amadurecer os frutos sem vida

o tempo renovou a aliança inesperada !!!!!!!!!!!!!

o tempo fez o milagre !!!!!!!!!!

estava escrito...



sexta-feira, 9 de março de 2012

SATREL DE LOS . . .


                                      Satrel de los...


Letras refletem em meu espelho

Dia a dia olho para o mundo

Suspiro e penso

O que faço eu aqui

No campo das ilusões

Sem as vendas nos olhos

A luz do sol arde minhas vistas

Meu estômago embrulha

Então silenciosamente

Minha alma chora

Convulsivamente

Refugio-me em teus versos

Repouso meus dedos em livros

Orvalhos de esperança

Assim adormeço em paz


































terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

MINHAS VÍRGULAS




Minhas vírgulas


Entre as rosas amarelas ...

crivadas de espinhos

Esconde-se o punhal da in(decisão)

Hipérboles cansadas da mesmice da vida

Caminhos de brisas e temporais

Chão de estrelas descoloridas

Horizonte em chamas

Polaridades invertidas,

Explosão silenciosa

Vírgulas em tantas estradas distintas,

algumas caídas nas curvas cinzentas

outras dispostas em lugares ermos

muitas delas desgastadas pelo tempo hostil

Minhas vírgulas são tantas ...

Quantas pausas amigas do engano

Vírgulas ceifando os compassos

Milhares de orquestras sem som

Deixando as letras reféns...

de um relógio que se cansou

entre olhares viperinos, mesmo assim

essas letras teimosas renascem

e descansam, sem culpa na luz do sol

totalmente despidas de reticências

sementes germinando

ideias nascendo

meus pensamentos me compreendem

é isso que importa

ignoro os falsos adjetivos,

que de tanto discursar

nada mais ...dizem

sonhos desenganados

meu punhal entre as rosas

com vontade...rasgo o ventre da ilusão

deixando suas vísceras no fosso da ironia

libertando o coração das masmorras

e voando bem alto

ao lado de minhas vírgulas

que também criaram asas...














































































sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

TEMPO DE VOO




Tempo de voo


(para as gaivotas que partiram...)

 

O gosto salgado do mar

A fuga das palavras sobre as ondas

Os lábios secos de ilusão

O tropeço no pronome possessivo

A regência de um verbo desgarrado,

em um barco à deriva

O voo das gaivotas

para longe dos limos apodrecidos

os rochedos acinzentaram

e a música calou-se

presas a uma ilha sem habitantes

o desespero das libélulas

as asas pregadas na cortina da noite

barulho estridente dos sinos no ar

que mais parecem tambores de guerra

ou martelos de uma sentença

tempo de voo

o vendaval revirando o oceano anil

cansado, triste e morno

escurecido...anunciando temporal

a solidão da nuvem angustiada

que já vai chorar

derramando suas lágrimas

chuva de lamentos e dúvidas

e uma saudade insistente

das gaivotas que partiram

08.02.12

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

TELA NOTURNA DO TEMPO





TELA NOTURNA DO TEMPO


Pedras escuras, trilhos estreitos

A noite acorda a velha cantina

Som de gaitas ao longe

Cantoria , vozes, risos

Ventania nos arvoredos

Temporal a caminho

Luz bruxuleante

Céu sem lua

Rua deserta

Salão imenso

Estátuas de mármore

marcadas pelo tempo

de nublados e neblinas

sussurros nas mesas medievais

passos,giros, copos, cartas e jogos...

A dança das idéias escondidas, poeira...

Barulho estridente, ruptura

Taças de vinho

estilhaçadas ao chão

Tingindo de púrpura o espaço

Nas telas silhuetas de homens e lobos

O som dos trovões

Reflexos de relâmpagos nos espelhos

Chuva grossa que cai sem parar

Gelo e sal na tolha parda

Garrafas esverdeadas

Papel amarelado

Escrituras antigas expostas

E um eco sem fim...

“trocando vinho e bebendo idéias?”

Onde estão os Goliardos?

Estão no poema que nasce...

Triste,silenciando seu choro

Na hora tardia

Na morte da noite

Que já escuta o galo cantar